Como o Hip-Hop conquistou o Reino Unido

A terra conhecida por cantores como os Beatles, Elton Jhon, Adele, Freddie Mercury e tantos outros, passou a ser casa de diversos hits do rap e do "drill"

04/05/2025 - Escrito por: Eduardo Bessa

Central Cee é hoje um dos principais nomes do hip-hop britânico | Foto: Harry Murphy/Getty Images

A história do Hip-Hop nos Estados Unidos, com o desenvolvimento do gênero no Bronx, a participação de nomes como o DJ Kool Herc, Grandmaster Flash, Tupac Shakur e muitos outros, é muito repercutida e conhecida pelos fãs do gênero. Desde a década de 1980, o hip-hop vem se expandindo globalmente, conquistando milhões de ouvintes e se ramificando em diversos subgêneros. Entre os países que mais consomem essa cultura hoje, o Reino Unido se destaca, especialmente com o sucesso do drill e do grime.

Nem todos conhecem o caminho percorrido do continente americano até o país europeu e é justamente isto que o Mixtape vai te contar.

Em 1979, a cultura das festas de bairros, toca-discos, grafite e outros, chegou ao Reino Unido e foi passou a acontecer de maneira semelhante á estado-unidense, porém com pequenas agregações britânicas, como a adição de elementos do dub e o raggae. Com o passar do tempo, o som passou a ganhar personalidade e elementos da música eletrônica em conjunto com uma vontade dos artistas de retratarem a realidade da vida urbana em Londres, resultou no surgimento do grime, que já ao início da década de 90, adentrou ao mainstream, com os artistas Tricky, The Streets e Roots Manuva se destacando.

Tricky permanece fazendo músicas até hoje e possui em sua discografia colaborações com Björk, PJ Harvey e Neneh Cherry | Foto: Sean Dempsey/PA

Nos anos 2000, a explosão aconteceu de forma definitiva. Artistas como Wiley, o padrinho do grime, Kano e Lethal Bizzle tiveram diversos hits, com o hit Pow (Foward!) do último chegando a atingir o Top 20 dos charts no Reino Unido. Em 2003, o MC Dizzee Rascal conquistou um Mercury Prize, premiação para o melhor álbum no território, o que representou um grande marco para a cena. As rádios piratas tiveram uma grande importância para a disseminação do grime, já que elas forneciam uma plataforma para artistas iniciantes, conectavam MC's e DJ'S com o seu público, algo difícil considerando que a internet ainda não era tão popular, e principalmente, ampliava o público das batalhas de rap, que podiam ser transmitidas nestas rádios ou distribuídas em DVD's.

A partir de 2010, o grime continuou com a sua evolução, e hoje se mantém extremamente relevante nos meios digitais, com um destaque muito grande para nomes como Skepta, Stormzy, JME, Wiley, D Double E, porém teve de dividir o palco no mainstream do Hip-Hop britânico com o emergente drill. Sombrio, acelerado e provocativo, o novo estilo acabou sofrendo muitas críticas da mídia e das autoridades inglesas, que acusavam as letras de incitar a violência e glorificar o confronto entre gangues. As músicas, no geral, falam sobre o dia a dia nos bairros mais pobres de Londres, como Brixton, Tottenham, Peckham e Kennington, destacando a negligência governamental, a desigualdade social, o convívio com a violência e a resistência contra a ascensão do grill.

Hoje mais versáteis e também levemente adaptados para se aproximar á cultura pop, o drill adquiriu grande relevância nas redes sociais, o que acabou se tornando uma ferramenta para aumentar o alcance das músicas. Principais nomes como Headie One, Digga D, Unknown T e Central Cee e Dave, possuem, ao menos, mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify, demonstrando o grande público que o hip-hop britânico atinge atualmente.

A separação entre os subgêneros drill e grime não representa uma barreira para que artistas de ambos colaborem entre si. Stormzy e Headie One (imagem) produziram em conjunto com AJ Tracey, o hit "Ain't it Different" | Foto: Reprodução/Youtube